A FÁBRICA

Gosto de pensar e repercorrer os caminhos que me trouxeram ao momento presente!

Eu faço isso inconscientemente o tempo todo, mas de noite, quando todos dormem, o ateliê tá em silêncio, eu realmente viajo!
Às vezes viajo pra perto e fico rondando um tempo quase que presente, mas às vezes eu vou pra longe, beeeem longe, tão distante que parece que foi outra vida.

Ultimamente os trabalhos aqui no ateliê têm me transportado pra um tempo que pra mim foi muito feliz e rico. Um tempo que me deu a base para muitas coisas do hoje.

O pensamento me levou pra um casarão que abrigava uma fábrica.
Em meio à balancins, costureiras, lixadeira, borrachas, montadores, prensas, couro, cola, facas, bancadas, máquinhas de costura, borracha, papelão, fivelas, eu crescia!
Dessa fábrica saiam sapatos, bolsas, cintos, carteiras… peças em couro criadas e modeladas por minha mãe!
Ela teve alguns nomes, mas pra mim sempre foi “A FÁBRICA”

A Fábrica existiu por um bom período da minha vida de criança e avançou pela adolescência até perto dos 15 anos. Teve vários formatos, em vários prédios, em nossa casa, longe, perto… mas minhas lembranças se concentram sempre no casarão da Boca do Rio (bairro de Salvador) quando eu tinha entre 8 e 10 anos e Isabela era só uma bebê que dormia em cima de uma pilha de borrachas para sola de sapato.

Acho que minha paixão por produzir nasceu daí. E meu conhecimento de alguns processos e materiais também!
Eu era criança, mas ajudava voluntariamente e sempre fui muito curiosa, perguntava tudo, observava tudo e tentava reproduzir tudo – mesmo que fosse em sapatinhos e bolsinhas para minhas bonecas!
Meus pais sempre nos envolviam nesse mundo da fábrica de maneira que eu não enxergava aquilo como algo que fazia parte só da vida deles de adulto, eu me sentia inserida – ajudando ou não, participando diretamente ou não – Saia da escola e ia pra lá e por lá ficava até a hora de ir pra casa. Por um tempo, quando a produção ficava intensa e meus pais não conseguiam voltar pra casa, montavam uma mini casa em um dos cômodos e ficávamos lá em tempo integral.

Lembrar da Fábrica é muito bom e o trabalho na La Pomme me obriga a fazer esse resgate quase que diariamente!
É ela que eu respiro quando preciso encontrar a solução de um problema de produção, é no que aprendi lá que eu me pauto no momento de criar uma nova peça. Revivo tudo que era feito por alí e que pode ser aplicado no meu trabalho hoje. O trabalho lá era tão diferente do que é feito aqui, mas inegavelmente foi a minha escola!
Eu não precisei pesquisar qual o melhor tipo de cola pra determinado material, eu já sabia! Nem descobrir a melhor forma de colocar zíper de metro! Eu nunca costurei na vida e hoje toda a costura da La Pomme é feita por mim sem nunca ter feito um curso de costura! Aprendi “sozinha” com toda minha bagagem de lembranças de como faziam as costureiras e minha própria mãe! Eu quebrei muita agulha, perdi muitas peças, e já chorei sentada na máquina porque não conseguia reproduzir e materializar o que minhas lembranças mostravam. Mas junto com um pouco de teimosia e persistência foi a Fábrica que me norteou.
Claro que pesquisar, melhorar, reciclar conhecimento é bom, válido e produtivo! E isso faz parte do meu hoje também, mas a Fábrica e seus processos estão em mim! Me ajudam todos os dias a viver o meu sonho!

O ritmo de trabalho aqui tá intenso, a La pomme é um bebê que tá sendo criado, moldado, mas já tem dado muita alegria pra gente. Hoje, em mais uma noite que talvez tenha que virar trabalhando, fiquei aqui no meu silêncio, revisitando esse tempo e lembrando que a A Fábrica começou, num cantinho da casa pra aumentar a renda e foi crescendo e se multiplicando até ser só A Fábrica. E não tem como não linkar com o fato de que há 8 anos eu fazia cadernos personalizados pra ganhar um trocadinho extra e hoje a La Pomme existe ainda que como bebê, mas uma empresa/ateliê caminhando para sua independência. Não tem como não sentir um orgulhinho suave e gostoso que dá força pra virar mais noites com um sorriso largo estampado no rosto.

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E o que essas imagens têm de ligação com o post? É que quando viro noite e o dia amanhece, gosto de ir lá no quintal/jardim e fazer algumas fotos com essa luz fresquinha de um novo dia!

esse post foi publicado originalmente no antigo blog: as peripécias de eva agora ele compõe o acervo/arquivo de evinha c!

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